Igreja de S. Miguel do Castelo
A referência mais antiga que se conhece à igreja de S. Miguel do Castelo data de 1216, mas, não é mencionada nas Inquirições de 1220.
Em 1239, o templo é sagrado pelo arcebispo D. Silvestre Godinho, segundo constava numa inscrição, hoje desaparecida.
Nas Inquirições de 1258 o templo aparece designado como Igreja de S. Miguel, mas, em 1285, aparece mencionado como Igreja de Santa Margarida. Ao longos dos séculos foi sendo nomeada quer como de S. Miguel quer como de Santa Margarida.
Na época medieval foi debaixo do seu alpendre que se fizeram algumas audiências camarárias, sendo, pois, um polo de reunião para assuntos de administração e de sociabilidade.
Em 1664, o prior D. Diogo Lobo da Silveira retira a pia batismal existente na Igreja de S. Miguel e leva-a para a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. De facto, acreditava-se que nesta pia batismal teria sido batizado o nosso primeiro rei – Afonso Henriques.
Em 1872 desaba o campanário bem como um dos cunhais da fachada principal do templo.
Em 1873, tendo em conta o seu estado de ruína e o simbolismo que se atribui ao templo – onde se acreditava ter sido batizado o nosso primeiro rei –, a Câmara Municipal de Guimarães tenta que este lhe seja entregue, mas sem êxito.
É então lançada uma subscrição pública para que se possa levar avante o seu restauro, iniciando-se os trabalhos em agosto de 1874. Consegue-se reunir a verba de 700.000 réis por subscrição pública, 1.200.000 réis de subsídio por parte do governo e uma verba não determinada, dada por Martins Sarmento, esta última especificamente para refazer o arco cruzeiro.
Nesta requalificação do templo, que durou entre 1874 e 1880, foram suprimidos os altares laterais, um, dedicado a Nossa Senhora da Graça e, o outro, a Santa Margarida e substituído o arco cruzeiro, que tinha sido colocado em 1795, por outro mais consentâneo com o estilo dito original.
Em 1910, a igreja de S. Miguel do Castelo é classificada como Monumento Nacional (Diário do Governo, nº 136, de 16 de junho de 1910).
Em setembro de 1927, a pia batismal que tinha sido levada, em 1664, pelo prior D. Diogo Lobo da Silveira para a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, volta ao seu local de origem. E regressa exatamente pelo mesmo motivo pelo qual tinha sido levada – valorizar a pia batismal na qual se acreditava ter sido batizado D. Afonso Henriques.
Em 1928, a sacristia, que em época indeterminada lhe tinha sido acrescentada, é demolida, mantendo-se, no entanto, a porta que lhe dava acesso. Estas obras estiveram a cargo da DGEMN: Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, com a intervenção direta do arquiteto Baltazar de Castro, e visaram também a recuperação das coberturas, a correção de fendas e a supressão das raízes de um plátano que a afetava.
Entre 1938 e 1940 novo restauro é realizado, a cargo da DGEMN: Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
Em abril de 1952 é publicada, no Diário do Governo, a zona especial de proteção ao Castelo, Igreja de S. Miguel e Paço dos Duques de Bragança, área que foi substancialmente alargada em 1955.
Uma igreja românica
A singela igreja de S. Miguel do Castelo é, no entender de Manuel Monteiro, «uma construção nítida e tipicamente românica pelo seu aparelho e pelo desenho das suas portas, cornijas e modilhões».
É um templo de dimensões pouco avantajadas, construído no granito de dente grosseiro da região, sem grandes atavios decorativos, de planta retangular, de uma só nave, com capela-mor também retangular, sem siglas de canteiro e com teto em madeira, seguindo modelo semelhante ao de muitas outras igrejas do mesmo período.
O arco-cruzeiro não é o original, tendo em 1795 sido substituído por outro. No restauro efetuado entre 1874 e 1880, deitaram-no abaixo e voltaram a reconstruí-lo de acordo com o que se considerou ser o arco cruzeiro primitivo. No entender de Manuel Monteiro, apesar do cuidado posto neste restauro, o arco cruzeiro deveria ter sido feito à semelhança do da porta principal, ou seja, com arco apontado.
A igreja possui três portas: a porta de entrada principal e duas, uma em frente à outra, inseridas nas paredes laterais da nave.
A iluminação do interior do templo é garantida através seis singelas frestas: uma, na cabeceira da capela-mor; outra, na empena da porta principal, e duas em cada uma das paredes laterais da nave.
A igreja não possui colunas nem capitéis ornamentados, os tímpanos são lisos, sendo a cornija e os modilhões singelos.
No interior do monumento são ainda visíveis dez das doze cruzes com que se sagrava uma igreja.
Em tempos idos, a igreja teve um retábulo na capela-mor e dois altares na nave, encostados ao arco cruzeiro.
O retábulo do altar-mor foi mantido durante as obras de restauro de 1874-1888, mas, no restauro realizado pela DGEMN, entre 1938-1940, foi retirado e substituído por um altar de pedra.
Na parede exterior da nave, orientada a poente, encontram-se dois túmulos em arcossólio inseridos na grossura da parede. Acredita-se que no primeiro túmulo em arcossólio (contando a partir da empena da entrada principal) se encontra sepultado o chantre conimbricense Martim Pais, falecido a 5 de janeiro de 1223. No túmulo seguinte, também em arcossólio, singelo e despido de ornatos, estará sepultado João Anes Enxate, procurador de número da vila de Guimarães.
Em redor da Igreja de S. Miguel do Castelo terá existido um alpendre.
Ao longo dos séculos a Igreja de S. Miguel do Castelo foi um lugar de enterramento, deles ainda hoje permanecendo a memória, através de um conjunto significativo de tampas de sepultura que se encontram no pavimento da nave da Igreja, tendo também, outrora, existido outras no exterior.
Outro elementos curioso, tem que ver com o culto a Santa Margarida. A tradição diz que as grávidas vimaranenses iam à Igreja de S. Miguel para a novena noturna a Santa Margarida. Rezando um terço e dando três voltas corridas em torno de toda a igreja – o mais rapidamente possível – pediam por um parto rápido e pouco doloroso. De seguida, a um metro de distância, lançavam três pedrinhas pela seteira da capela-mor. Desse modo, “perguntavam” à Santa se teriam um menino ou uma menina. De acordo com José Leite de Vasconcelos (1882), se as pedrinhas caíssem no interior do templo, ficariam a saber que iam ter um menino. Pelo contrário, se as pedrinhas não entrassem, nasceria uma menina.