Pote
Autor: Desconhecido
Centro de Fabrico: Fornos de Jingdezhen, China
Data: Século XVII (Dinastia Qing, período de Kangxi)
Material: Porcelana
Dimensões (cm): Alt. 90; Ø 50,5
N.º de Inventário: PD0480
Um de dois potes em porcelana branca e espessa, pintados a azul-cobalto sobre um vidrado leve. As tampas, de origem ocidental, são encimadas por leões rampantes, em metal dourado.
Estas peças estão carregadas de simbolismo e expressam votos de boa sorte ao longo do ano, não só pela presença na decoração de ramos floridos, correspondendo às quatro estações, mas também pela presença de vários insetos, símbolo de longevidade e renovação ao longo do ciclo da vida.
Os objetos de porcelana não foram só considerados preciosos na China, mas também no resto do mundo. A delicadeza e qualidade da porcelana chinesa atraiu a atenção dos portugueses, que, no início do século XVI, as comercializaram em quantidade, tornando o seu uso uma moda entre as classes abastadas europeias.
Surgida na China entre os séculos VI e VII, a porcelana é um produto fruto do aperfeiçoamento do grés, obtido graças ao emprego de uma argila plástica, o caulino, queimada a altas temperaturas (+1200 ºC).
Começou a ser produzida na dinastia Tang (618-906), tendo-se desenvolvido intensamente na dinastia Ming (1368-1644) com a descoberta do caulino, atingido a perfeição em meados do Século XIV.
“A Flora nas coleções do Paço”
«O termo crisântemo, do grego chryos (ouro) e anthemom (flor) foi primeiramente registado por Carlos Lineu, em maio de 1753, no seu trabalho de nomenclatura moderna Species Plantarum, embora sem uma ideia correta das flores a que se referia. No entanto, a flor já tinha sido mencionada por um botânico de Danzig, Jacob Breyn, em 1689, no seu Prodromus Plantarum Rariuorum, onde informa que os crisântemos eram cultivados em jardins holandeses e no jardim dos boticários de Chelsea, na Inglaterra, embora atualmente não exista qualquer vestígio dessa plantação.
[…]
Entretanto, as flores tinham já uma história cultural muito antiga na China, desde a sua primeira alusão ao outono e à passagem da rota migratória dos gansos no texto Clássico de Ritos, datado entre os séculos V a III a.C.. Também chamados de flores de ouro, na China, esses crisântemos teriam um caráter selvagem com pequenas flores, maioritariamente de cor amarela.
A sua crescente influência cultural na China e posterior desenvolvimento de dezenas de variedades em terras nipónicas deve-se essencialmente a um dos grandes especialistas em floricultura e poeta apaixonado pela espécie, Táo-Yuan-Ming (365-427), a quem se devem as variedades cultivadas em jardins, reconhecidas hoje como os exemplares da tipologia padrão da flor. Através do exemplo desse poeta, vivendo como um eremita numa zona afastada do bulício humano, renunciando às penas do mundo e em absoluto uníssono com a natureza para se dedicar ao cultivo dos crisântemos, é, ainda hoje, prática corrente, na China, cultivar crisântemos como a ocupação preferencial para quem atinge o outono da vida. Concomitantemente, o tema de cultivar estas flores, na idade da reforma, tem-se mantido continuamente popular na poesia chinesa, exprimindo o ideal de um período em que a realização humana se pode expressar plenamente.
Símbolos do mérito intelectual e alegria pelas conquistas positivas da vida, os crisântemos representam o outono e são particularmente celebrados no festival do nono mês lunar. O seu nome jú associa-se, na língua chinesa, a outros morfemas homófonos, com grande valor auspicioso, como jiu (longevidade) e ju (perseverança). Também, por isso mesmo, a ingestão da tisana feita à base das flores tem o mérito de ser um dos mais antigos produtos relacionados com o conceito daoista da busca pela imortalidade, iluminando o corpo até atingir o estado etéreo dos imortais capazes de voar e com eles cavalgar as nuvens.
[…]
[Este pote] apresenta uma decoração luminosa de crisântemos nos medalhões, tanto na base como nos ombros. Curiosamente e, como em outros casos, a cultura visual das flores na porcelana de exportação antecedeu a moda do seu cultivo nos jardins europeus.»
Sasha Assis Lima