Contador
Autor: Desconhecido
Centro de Fabrico: Desconhecido
Data: Século XVII
Material: Madeira e marfim
Dimensões (cm): Alt. 274; larg. 156,5; prof. 51
N.º de Inventário: PD0297
“A Música nas coleções do Paço”
«Este contador apresenta‐se dividido em três registos, inferior, médio e superior. Cada registo tem por cima, ou na sua base, um friso. O registo médio está seccionado em três nichos, enquanto o superior e o inferior só possuem um. A temática decorativa de todo o conjunto é a mitologia helénica.
O centro do registo médio do contador mostra uma imagem de Apolo e as Artes, representadas por algumas musas. Apolo segura a sua Lira, em posição invertida e estilizada, o que não permite uma descrição organológica. Uma outra musa segura o que parece ser ou um Órgão portativo (Polímnia?), muito estilizado, ou uma espécie de Harpa, representando, no caso deste instrumento, Terpsícore, a musa da Dança. Acima desta, vêem‐se as costas de um cordofone do tipo da Guitarra, representando, neste caso, Clio, a patrona da História. Identificam‐se duas outras musas: no plano inferior e de costas, tomando o instrumento como uma Trombeta, encontra‐se Calíope, musa da poesia épica e da eloquência e Tália, a musa da Comédia, a segurar uma máscara, de frente e voltada para Calíope.
A posição da figura de Apolo sugere o mesmo deus da obra do artista barroco francês, Simon Vouet (1590‐1649), com o título de Parnasso ou Apolo e as Musas.
Para além do Apolo e as Artes, no friso sobre que assenta este registo, no penúltimo (à direita) dos seis pequenos retângulos que o decoram, aparece uma figura feminina com uma Lira (em posição correta) na mão esquerda, que se pode identificar como a musa Erato, a musa da Poesia Lírica. Normalmente, Erato é representada com um arco de violino na mão direita. Nesta imagem aparece, caído, um arco, mas com a configuração de um de caça. A função dos instrumentos é meramente identificadora das figuras que as têm.
[…]
A Viola de braço (Viola de arco) encontra‐se representada no quinto pequeno retângulo que decora o friso por cima da balaustrada que separa o registo inferior do registo médio […]. A viola de braço representada na figura, bem como o “arco” que fricciona as cordas, estão muito estilizados, o que dificulta uma melhor descrição organológica. No entanto, a configuração do instrumento remete para o início da construção destes instrumentos em Itália. Já o arco da figura só evoca a condição de cordas friccionadas da viola. Noutro contexto, a sua forma apontaria para um qualquer pequeno bastão.
A imagem apresenta‐se bastante indefinida entre o masculino e o feminino. Interpretando‐a, no entanto, tendo como base a temática principal da ornamentação e desconsiderando o instrumento musical, poderia identificar‐se como uma das musas, Tália, tomando como hera o que parece ser uma grande cabeleira e os botins em forma de máscara. Assim, como a música é intrínseca da representação teatral, será nessa função que aparece a Viola de braço ou Viola de arco.»
Eduardo Magalhães