Alegoria sobre o Paladar (2 de 2)
Autor: Desconhecido
Centro de Fabrico: Desconhecido
Data: Século XVII (?)
Material: Óleo sobre tela
Dimensões (cm): Alt. 50,6; larg. 66,6
Proprietário: Geosil – Empreendimentos Agrosilvícolas, S.A.
N.º de Inventário: PDdep0017
A pintura apresenta o interior de uma sala ampla e, ao fundo, vêm-se dois janelões que mostram o céu escurecido e que estão separados por um espelho, símbolo da vaidade humana.
Ao centro está uma mesa e, sobre ela, estão dispostos pratos acinzentados com alguns alimentos. À roda da mesa estão quatro casais vestidos com elegância e sentados em cadeiras de madeira revestidas.
Os convidados dispostos na mesa possuem guardanapos de grandes dimensões, comem com colheres e, provavelmente, usam facas. No lado direito da mesa está um homem recostado, com o casaco ligeiramente aberto, com o pé em cima da cadeira e deixando à vista o joelho. Possui um enorme guardanapo na sua mão esquerda e a maior parte dos convivas olham fixamente para ele. Junto da mesa, do lado esquerdo, uma jovem empregada chega-lhes um jarro de cor cinza. Uma luz frontal incide diretamente sobre a mesa, realçando os rostos, as cores, especialmente as brancas e as avermelhadas dos trajes e da mesa, expondo o conforto do cavalheiro.
Ao fundo da sala, do lado esquerdo, aparece uma porta totalmente aberta, encimada por um quadro de uma natureza morta, que simboliza a solidão e a serenidade. Através dessa abertura vemos um homem usando uma espada. Marcha na direção de um mendigo que está sentado e, provavelmente, tenta expulsá-lo. O indigente possui cabelos e barbas brancas, pernas desnudadas com chagas, uma bengala no chão e um cão que parece lamber-lhe as feridas. Está frágil e contorce-se, estendendo a mão direita para o homem.
As duas cenas da pintura contradizem-se e fazem lembrar a “parábola do rico e de Lázaro”, segundo o evangelho de São Lucas: «havia um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e que vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele e que desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. Aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. E morreu também o rico e foi sepultado. E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos e viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida e Lázaro somente males. Agora este é consolado e tu atormentado.» (Lucas 16: 19-25)