Virgem e São José buscando guarida em Belém
Autor: Bento Coelho da Silveira, atribuída a
Centro de Fabrico: Espanha
Data: c.1680-1685
Material: Óleo sobre tela
Dimensões (cm): Alt. 178,7; larg. 271,8
Proprietário: Palácio Nacional da Ajuda
N.º de Inventário: PNA66710
É através da leitura dos evangelhos, especificamente o de S. Lucas que podemos fazer o enquadramento histórico da pintura que acima tratamos. Lá pode ler-se o seguinte: “Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento em todo o império. Esse primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registar-se, cada um na sua cidade natal. José era da família e descendência de Davis. Subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de David, chamada Belém, na Judeia, para registar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto e Maria deu à luz o seu filho primogénito. Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa”.
Outra fonte de enquadramento é a “Legenda áurea”, e lá pode ler-se: “E quando chegaram lá, porque as hospedarias estavam todas tomadas, eles foram obrigados a ficar sem em um lugar comum onde todas as pessoas ficavam. E havia um estábulo para um burro que ele trouxe com ele, e para um boi”.
Já Louis Reau, na sua “Iconografia Cristiana” diz-nos acerca desta passagem que esta cena foi popularizada pelo « Théatre dês Mysteres» – uma forma de teatro que surgiu no século XV, que consistia numa série de imagens em movimento e diálogos escritos para um público amplo e que implementou e alimentou muitas histórias, lendas e crenças. O sobrenatural e o realismo passaram assim a coexistir.
Bento Coelho da Silveira (1617/1620 – 1708)
Natural de Lisboa, foi um pintor e poeta (de acordo com documentação da Academia dos Singulares), considerado um dos mais conceituados artistas portugueses do século XVII. Foi nomeado Pintor Régio de D. Pedro II em 1678.
No que respeita à sua formação artística, a informação é ambígua e não muito clara. Foi discípulo do pintor Marcos da Cruz e há suposições de que passou por Espanha na época de Peter Paul Rubens. Podem ter contribuído para a sua formação outros pintores como Avelar Rebelo, Baltazar Gomes Figueira e Josefa de Ayala, conhecida por Josefa de Óbidos.
As suas obras são maioritariamente pintadas a óleo sobre tela, material inovador no século XVII, por influência italiana. Ficou conhecido como pintor fa presto (“faz depressa” em italiano), devido à rapidez de execução das suas obras caracterizadas por pinceladas longas e largas. Também eram executadas a la prima, ou seja, sem desenho preparatório (as tintas utilizadas são acrescentadas a um fundo de cor terrosa, sem que tenha sido feito um desenho prévio do tema em questão).
Na generalidade, as pinturas de Bento Coelho da Silveira são apontadas como de elevada qualidade, sendo encaradas como um ponto de viragem da evolução da pintura barroca.
Pintou para um vasto mercado, tendo produzido uma obra extensa, principalmente destinada a decorar os templos cristãos no período pós restauracionista. Trabalhou para a Coroa (D. João IV, D. Afonso VI, D. Pedro II), para a nobreza (Menezes, Lencastres), para Ordens Religiosas (Jesuítas, Carmelitas Descalços, Dominicanos, Agostinhos, Franciscanos, Clarissas, Arrábidos, Cistercienses) e para Irmandades e Confrarias.
São-lhe atribuídas mais de 200 obras existentes atualmente nos mais diversos locais, além de muitas outras que o terramoto de 1755 destruiu.
Pintou até morrer e, ao que se julga, chegou a usar pincéis de ouro, de prata e de ferro.