Paisagem com Camponeses e Rebanho
Autor: Jean Baptiste Nicolas Pillement
Centro de Fabrico: França
Data: Século XVIII
Material: Óleo sobre tela
Dimensões (cm): Larg. 98; alt. 69
Proprietário: novobanco
N.º de Inventário: P19
«Paisagista de grande sensibilidade no modo global como olha para a Natureza, Jean Baptiste Nicolas Pillement enquadra-se no discurso estético do Iluminismo, centrado no interesse pela relação entre o Homem e a Natureza. O seu percurso artístico é pouco comum para a época. Movido simultaneamente por um espírito curioso e pela necessidade de procurar trabalhos que lhe dessem estabilidade financeira, Pillement foi um viajante incansável, um observador atento do mundo que o rodeava, interessado pelos novos valores da observação direta da paisagem, nos seus cambiantes atmosféricos e no seu vasto leque de recursos naturais, vegetais, minerais ou aquáticos. Na busca de trabalho e de novos clientes viveu em vários países da Europa. Trabalhou, em França, o seu país de origem, mas também em Espanha, em Itália, em Inglaterra, na Áustria, em Varsóvia, e em Portugal, que visita várias vezes e onde reside entre 1780 e 1786. Embora conotado com uma pintura essencialmente decorativa, que efetivamente integra a sua obra, Pillement faz parte de toda uma geração de pintores setecentistas que já procurava a pintura ao ar livre, na altura ainda sem grandes meios técnicos para o fazer, e que, pelo modo como olha para a paisagem como um todo e a considera como tema de pintura por si só, geradora de sentimentos e emoções, abre caminho para a pintura naturalista do século seguinte.
Nesta paisagem fluvial e rochosa, de vegetação diversa, as figuras estão enquadradas na própria natureza como se dela fizessem parte. Os camponeses, homens, mulheres e crianças, representados num momento de pausa nas suas atividades rurais, têm o mesmo protagonismo aos olhos do pintor, que as árvores, os arbustos, o ribeiro em primeiro plano ou as montanhas que se descobrem no horizonte. Pillement tira o maior partido dos recursos expressivos da natureza, que observa minuciosamente e traduz na gradação de cores e na colocação de luz, captando a atmosfera física do local e a tranquilidade bucólica dos diversos grupos de figuras. As suas qualidades de colorista estão aqui bem patentes, na gama subtil dos múltiplos tons de verdes e azuis que estendem a paisagem até ao horizonte, convergindo para o céu azul claro e nas pequeníssimas pinceladas brancas que aplica nas suas figuras como pequenas trepidações de luz, que ele próprio definia como “le picant du clair obscur”. Em primeiro plano os tons são mais escuros, nos verdes, castanhos e ocres das rochas, ribeiro e arbustos. A luz, concentrada nos grupos de figuras, cuja sombra se projeta na terra clara do solo, é reveladora da vontade de captar o instantâneo atmosférico de um momento específico do dia. Joseph Vernet (1714-1789), cuja pintura de paisagens influencia Pillement, afirmava que “a hora que se escolhia para pintar tinha que se fazer sentir em toda a pintura”. Não esqueçamos que em finais do século XVIII isto era um verdadeiro desafio. Os meios técnicos da pintura dificultavam o trabalho ao ar livre, que era executado em esboços, e pintado em atelier. O tubo de tinta, que vai permitir ter as cores necessárias sempre à mão, independentemente do clima e do tempo de permanência no exterior, só surge na década de 30 do século XIX, revolucionando totalmente o trabalho dos pintores.
A obra de Pillement influenciou diversos artistas portugueses, não só na pintura de paisagem, mas também na pintura ornamental e na pintura mural. Em 1782, Pillement instala-se no Porto, na Porta do Olival e abre uma aula de desenho e pintura onde teve como alunos Domingos Francisco Vieira e o filho, Francisco Vieira, dito o Portuense. A Coleção de Pintura do Novo Banco contempla cinco pinturas de Jean Baptiste Pillement.»
Ana Paula Rebelo Correia (Consultora técnica da coleção de pintura do novobanco)