Quatro Continentes / O Triunfo da Igreja Católica
Autor: Desconhecido
Centro de Fabrico: Desconhecido
Data: Século XVIII
Material: Óleo sobre tela
Dimensões (cm): Alt. 136,5; larg. 183
N.º de Inventário: PD0484
A Europa foi, durante séculos, o “centro” do mundo.
Os mares eram controlados por Portugueses, Espanhóis, Holandeses, Franceses e Ingleses e todos os bens convergiam para a Europa. As grandes cidades mundiais eram Lisboa, Sevilha, Cádis, Veneza, Génova, Antuérpia, Amesterdão e Londres. Nas suas ruas “respirava-se” o ouro africano, a prata e as madeiras exóticas americanas, as especiarias indianas e o chá e as porcelanas orientais.
Esta tela reflete-nos, claramente, o tempo do imperialismo europeu, surgindo a Europa ricamente vestida, com uma arquitetura na mão representando o poder da Igreja e com os frutos simbolizando a riqueza e a prosperidade.
Com tom de pele amarelado a Ásia aparece trazendo pérolas, ouro e os seus cheiros místicos representados no incenso.
A mulher representando as Américas surge-nos com plumas de aves exóticas na cabeça e uma aljava com flechas, qual amazona.
De pele mais escura, a África surge com um turbante com tromba e dentes de elefante, um escorpião na mão esquerda e uma flecha surgida por detrás dele.
Todas trazem as suas riquezas à Europa…
“A Flora nas coleções do Paço”
«Na pintura representativa dos Quatro Continentes […], exemplar de uma iconografia visual popular na época barroca, a proeminente figura da Europa, coroada, abraçando, com o seu braço direito, um modelo de um templo, e congregando a seus pés os frutos simbólicos da Santíssima Trindade e do sangue eucarístico, é a demonstração alegórica onde “se concentra a mais perfeita e verdadeira religião, superior a qualquer outra”, na descrição da Iconologia do humanista italiano Cesare Ripa (ca 1555-1622). O olhar da Europa dirige-se na direção do Oriente, de onde ela inspira o perfume rescendente de um turíbulo fumegante, que a figura alegórica da Ásia segura nas mãos. Exibindo todo o luxo da Pérsia ou do Índico, a Ásia vem com os cabelos soltos coroados de rosas e a pele exposta adornada de pedras preciosas, ouro e pérolas, atributos de “esta felicíssima parte do mundo”, ainda nas palavras de Cesare Ripa (RIPA, 2007).
O fumo do turíbulo provém de uma resina a que se deu o nome de olíbano ou incenso. Considerado como o produto mais caro que o antigo Egipto importava, esta resina aromática ou “o suor dos deuses” como os egípcios lhe chamavam, é colhida de árvores do género Boswellia, originárias de uma faixa estreita que se estende do Corno de África até à Índia e sul da China.
O comércio do olíbano floresceu durante séculos. O mais refinado e valioso provinha da Boswellia sacra que crescia em Omã, nas montanhas Dhofar, de onde centenas de caravanas de camelos transportavam o olíbano, através do deserto da Arábia, com destino aos impérios egípcio, babilónico, grego e romano.
Para além das suas qualidades odoríferas, o olíbano era utilizado como tratamento para variadíssimos distúrbios de saúde, através da resina comestível e de tisanas. Contudo, foi o seu uso durante cerimónias para purificação, através do fumo que exalava quando era queimado, que lhe outorgou uma dimensão sagrada.»
Sasha Assis Lima