Fragmento de Tapeçaria: Sanefa de Aubusson
Autor: Desconhecido
Centro de Fabrico: Aubusson, França (?)
Data: Século XVII
Material: Lã e seda
Dimensões (cm): Alt. 42,5; larg. 230,5
N.º de Inventário: PD0030
«Podem distinguir‐se quatro partes neste fragmento têxtil que se pensa poderá ter sido produzido em Aubusson: à esquerda, encontra‐se uma figura jovem, descontextualizada da restante temática do fragmento. Nota‐se uma cosedura no tecido, o que pode pressupor um qualquer aproveitamento de material. As três partes seguintes apresentam trabalhos de Hércules (Héracles, na Grécia): a captura do touro, a morte da Hidra e, de novo, a captura do touro, numa tentativa (?) de simetria.
Embora a lenda de Hércules se apresente em múltiplas variantes, a mais conhecida é a do herói de Tebas, filho de Júpiter e de Alcmena. Perseguido ainda em criança por Juno, mulher de Júpiter, livrou‐se de todos os ataques e acabou por ganhar a simpatia da deusa que o amamentou para torná‐lo imortal. Adulto, foi para Micenas e apresentou-se ao rei Euristeu que, conhecendo a fama da sua força e com medo que lhe pudesse roubar o trono, atribuiu‐lhe doze trabalhos que ele julgava impossíveis de realizar.
As cenas representadas neste fragmento mostram dois desses trabalhos: a captura do touro (o sexto trabalho) da ilha de Creta, que domou e entregou a Eristeu. Este, deixando‐o escapar, obrigou Hércules a recapturá‐lo e a matá‐lo. O outro trabalho, o segundo da série, foi a morte da Hidra de Lerna. Esta Hidra, de múltiplas cabeças, vivia num charco muito profundo e destruía os rebanhos e as manadas da região. Sempre que lhe cortavam uma cabeça, voltavam a crescer‐lhe várias outras, a não ser que se queimasse a fogo a ferida. Levando o sobrinho Iolau como guia, Hércules não teve dificuldade em vencê‐la, cortando‐lhe todas as cabeças de um só golpe.»
Eduardo Magalhães
“A Música nas coleções do Paço”
«Nas duas cenas da captura do touro, aparece, em cada, uma trompa em chifre animal. À trompa de chifre de boi, os gregos chamavam kéras, uma transposição do shofar judaico usado no templo. Depois de limpos, estes chifres sofriam uma leve cozedura que lhes melhorava a sonoridade.
Nesta representação do “trabalho” de Hércules, a trompa na sua configuração natural de corno associa‐se ao touro, um animal de cornos, que Hércules teve que capturar e de que era feito o instrumento. A função sonora do instrumento poderá ser a de celebração do sucesso de Hércules na missão que fora atribuída ou a de anunciar a sua chegada vitoriosa.»
Eduardo Magalhães