Horário diário: 10:00 - 18:00

PD1131

Livro de Cantochão / Kirial Misto
Autor: Desconhecido
Centro de Fabrico: Coimbra, Portugal
Data: Século XVI-XVII
Material: Pergaminho, couro e madeira
Dimensões (cm): Alt. 65,8; Larg. 49,5
Proprietário: Museu Nacional Machado de Castro
N.º de Inventário: MNMC2271

Com o aparecimento do Cristianismo, ainda no Império Romano, começa a surgir uma nova música, através da qual os primeiros cristãos exprimem os seus sentimentos de fé, esperança e amor. Escondidos nas catacumbas por baixo da cidade de Roma, devido às perseguições, os cristãos criaram as suas próprias formas de prática religiosa e musical, entoando um tipo de oração: o Cantochão – cânticos monofónicos que consistem numa linha melódica simples, sem acompanhamento musical, com ritmo caracteristicamente prosódico e texto em latim.

O cantochão romano é o chamado Canto Gregoriano, cujas características próprias foram herdadas dos salmos judaicos, assim como dos modos gregos, que no século VI foram selecionados e adaptados pelo Papa São Gregório Magno para serem utilizados nas celebrações religiosas da Igreja Católica.

Após a realização do Concílio Vaticano II (1965), o latim deixou de ser a língua oficial na liturgia da Igreja e as celebrações passaram a ser realizadas na língua vernácula de cada país. A prática do canto gregoriano ficou restrita aos mosteiros e a grupos de admiradores.

“A Música nas coleções do Paço”
«Kirial é um livro que contém a música das partes fixas da Missa (ordinário ou comum) que se cantaram até à reforma do Concílio Vaticano II: Kyrie eleison, Gloria in excelsis, Credo, Sanctus e Agnus Dei. Contém várias versões destes cantos para missas mais ou menos solenizadas, consoante o calendário litúrgico e em diferentes “tons”. As missas eram classificadas em “simples”, “semiduplas” e “duplas”, consoante a sua importância.

Era bastante comum que estes livros contivessem outras músicas, ou simplesmente textos, para valer a necessidades da comunidade que serviam, chamando-se por isso Mistos.

Este Kirial contém o Comum de Missas, textos bíblicos sem música e algumas antífonas marianas.

O livro tem algumas particularidades diferentes dos outros em Guimarães. Uma delas é um Gloria in excelsis com texto “estranho” (não litúrgico) inserido no meio desta Doxologia. Estes textos designam-se “tropos”. Foram muito comuns, especialmente durante a Idade Média. Os tropos aqui inseridos são “marianos” o que induz a que seria cantado em festas à Virgem, como está indicado no início do canto (Domina Nostra).

A importância destes livros na prática musical da liturgia religiosa cristã observa-se no cuidado com que foram elaborados quer ao nível do suporte dos textos e música, em pergaminho, um material muito caro, quer ao nível da decoração das letras capitais iniciais.

Pelo elevado valor e pela escassez do pergaminho, alterações litúrgicas ao longo do tempo ou introdução de novos textos, obrigavam a raspagens do original, como acontece neste livro, rescrevendo-se a nova música e/ou o novo texto, chamando-se, após isso, “Palimpsestos”.»
Eduardo Magalhães