Antecâmara
Nos Paços Senhoriais, ao contrário do que é vulgar nas casas de hoje, não existiam corredores e as câmaras, como então se dizia, sucediam-se umas às outras, caminhando-se dos espaços públicos para os espaços cada vez mais privados.
Ao entrar nesta antecâmara está a ter-se acesso ao que era o espaço de intimidade de D. Afonso, I Duque de Bragança, e ao qual apenas acediam os que com ele privavam. Esta sala está imediatamente a seguir à Sala Grande ou Aula (hoje Salão Nobre) onde o Duque recebia os que o procuravam.
Os aposentos privados do Duque de Bragança desdobravam-se em dois pisos e eram constituídos por seis câmaras: 3 no piso 1 (primeiro andar) e outras três no piso 2 (segundo andar). A ligação entre os dois pisos fazia-se através de uma escada helicoidal (de uso privativo do Duque) e outra de tiro pela qual circulavam os que o serviam. As escadas originais quatrocentistas ainda existem atualmente, mas não integram o circuito de visita.
Hoje quem visita o Paço apenas tem acesso a três destas «câmaras», todas situadas no piso 1 – a antecâmara, a câmara de dormir (hoje designado quarto) e a trascâmara (hoje designada Sala de Cipião).
A antecâmara era a câmara que antecedia a câmara de dormir (quarto).
Repare-se na lareira e na abertura quadrangular vedada por uma porta de ferro que aí se encontra. Esta lareira permitia fazer o aquecimento da câmara de dormir de D. Afonso sem que houvesse necessidade de entrar no quarto. Durante a noite, um dos servidores ia mantendo a lareira acesa propiciando o aquecimento do quarto.
Repare-se no teto pintado com motivos vegetalistas, cenas de caça e os brasões do D. Afonso, I Duque de Bragança, e de sua mulher, D. Constança de Noronha. Foi pintado aquando das obras de restauro realizadas no séc. XX pela Direção Geral dos Monumentos Nacionais e pretendeu-se com ele chamar a atenção para o facto de na época estas habitações senhoriais serem ornadas com tetos decorados, tornando as câmaras mais amenas e confortáveis.
Aqui se expõem duas tapeçarias flamengas da série Publius Decius Mus – «Publius Decius Mus despede-se dos Lictores» e «Publius Decius Mus e Titus Manlius recebem o ‘Paladium’ das mãos do Senado de Roma». Nelas se documenta a história do Cônsul romano Publius Decius Mus, baseada na descrição constante na obra, «Ab urbe condita», do historiador romano Titus Livius. Os cônsules Publius Decius Mus e Titus Manlius chefiam os romanos na guerra contra os latinos (340-338 a.C.), tendo ambos sonhado com um gigante que predizia “que seriam sacrificados aos infernos, o general de um dos exércitos, e o exército oposto, sendo necessário o sacrifício de um dos cônsules para que fosse obtida a derrota do inimigo. Cumprindo um ato de ‘devotio’, Decius Mus lança-se para a morte contra o exército Latino na Batalha do Vesúvio” (texto de Maria Antónia Quina).